Alerta sobre a Flexibilização do Isolamento Social

Pesquisadores UFMG alertam: afrouxamento da quarentena é precipitado e pode provocar disparada dos casos da COVID-19.

A retomada gradual das atividades econômicas proposta por alguns governos estaduais é prematura e pode anular os benefícios proporcionados pela quarentena, como redução da taxa de mortalidade e de contaminação pelo novo coronavírus. Neste momento, o que os governos deveriam articular junto aos municípios é o reforço do isolamento social, não a flexibilização. A recomendação é do Comitê de Enfrentamento do Novo Coronavírus da UFMG.

Isolamento no Estado de SP se mantém em 48% e apenas 4 cidades ...

Por que ainda não é o momento para flexibilizar o isolamento social?
9 argumentos da UFMG.


  • A transmissão do vírus no Brasil ainda não está controlada
  • Nosso sistema de saúde ainda não está detectando adequadamente as pessoas com COVID-19 
  • Ainda não há um planejamento para a realização de testes em amostra representativa da população
  • É necessário aprimorar a sistematização e a transparência das informações relativas aos serviços de saúde (profissionais, disponibilidade de leitos, insumos de EPI, respiradores)
  • Os protocolos com as medidas preventivas e de controle em ambientes de trabalho, espaços públicos e escolas ainda não foram amplamente divulgados e debatidos nos diversos setores da nossa sociedade.
  • É insuficiente ainda o investImento em campanhas que promovam o engajamento da população e conscientização para adesão às medidas preventivas
  • É preciso esclarecer como será a vigilância e o controle de possíveis novos casos importados de outras cidades e estados
  • A “imunidade de rebanho” não irá acontecer tão cedo
  • Ainda não há suficiente alinhamento da política de prevenção entre o nível federal e estadual para garantir ações coordenadas e efetivas

O grupo de defende a tese em um artigo, com base em nove argumentos científicos calcados em critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), estudos de instituições renomadas, como a Imperial College, além da experiência de países como Alemanha e Singapura.

Segundo Governo, decreto eleva em 13% o índice de isolamento ...


Brasil passa França em mortes e registra maior número de casos em 24h

Com 956 mortes confirmadas entre ontem e hoje, o Brasil chegou a 28.834 óbitos pelo novo coronavírus e tornou-se o quarto país com maior número absoluto de vítimas pela doença em todo o mundo, ultrapassando a França (28.717 óbitos, segundo balanço da Universidade Johns Hopkins). Agora, o país fica atrás apenas de Estados Unidos (103.685), Reino Unido (38.458) e Itália (33.340) em número de mortes pela covid-19. Segundo as últimas atualizações do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 33.274 novos diagnósticos de covid-19 nas últimas 24 horas e agora soma 498.440 casos confirmados.

Rebanho

Outro tópico levantado pelos membros do comitê é que a polêmica “imunidade de rebanho”, estratégia que chegou a ser defendida no Reino Unido pelo Primeiro Ministro Boris Johnson, não deve ocorrer tão cedo no Brasil. A professora da Faculdade de Medicina da UFMG Cristina Alvim - uma das autoras do documento - explica que o conceito remete à resistência adquirida pela população após o contágio por uma doença - como a catapora, por exemplo - e posterior recuperação. Em tese, as pessoas curadas criam anticorpos. Quando uma porcentagem alta do “rebanho” se torna imune, o vírus então deixa de circular e a doença pode ser erradicada. 
No caso do novo coronavírus, os estudiosos ressaltam que o custo humano e social dessa solução poderia ser altíssimo. A imunidade em massa, afinal, só pode ser alcançada quando mais de 70% da população é infectada. Uma projeção feita no artigo mostra que, aplicando nesse contexto a letalidade média da COVID-19 de 1%, observada em países com como a Alemanha, pelo menos 145 mil mineiros teriam que morrer para o sucesso da empreitada. 
"O discurso da imunidade de rebanho demonstra falta de conhecimento sobre a dinâmica da doença. Se a gente transporta esse cálculo que fizemos de Minas para o Brasil, numa conta grosseira, chegamos à conclusão de que 140 milhões de pessoas (70% dos brasileiros) teriam que ser infectados para que chegássemos à essa imunidade. Se 1% desse total morrer, haveria 1,4 milhão de óbitos", pondera Cristina."
A pesquisadora ressalta ainda que não há evidências de que os anticorpos adquiridos pelo contágio do Sars-CoV-2, o vírus da COVID-19, sejam uma garantia duradoura contra a infecção.

Testagem

A subnotificação casos e a ausência de um planejamento de testagem para os estados também preocupam a UFMG. Segundo o comitê, o estado de MG testa, efetivamente, 11% dos casos suspeitos de coronavírus, o que faz da amostra pouco representativa da real expansão da pandemia. Diante desse cenário, a flexibilização do isolamento ocorreria no escuro, uma vez que, sem testes, não há como monitorar a medida, ou mesmo acompanhar a evolução do surto. 
De acordo com o artigo, Minas realiza 478 testes por 1 milhão de habitantes desde o início da epidemia. A taxa do Brasil, considerada baixa na comparação com outros países, é três vezes maior. Na Itália, onde o confinamento começa a ser flexibilizado, o índice é de 23 mil testes/milhão de habitantes. 
A professora Cristina Alvim alerta para o fato de que a retomada as atividades econômicas sem um plano de testagem adequado também põe o sistema de saúde na rota do colapso. Estudos matemáticos feitos pela Universidade apontam que eventuais mudanças na taxa de transmissão do vírus provocadas pelo relaxamento podem multiplicar por dez o número de infecções pela COVID-19, sem que haja aumento da demanda por leitos. Quando as autoridades notarem os efeitos dessa propagação em ocupação de vagas de UTI, pode não haver mais tempo para evitar sobrecarga.
“A doença tem transmissão rápida, mas a evolução é lenta. Nós temos 14 dias de incubação, dois dias de transmissão ainda assintomática, uma semana de síndrome gripal e, em média, até duas semanas de internação hospitalar. Isso faz com que a doença seja lenta. E se nós não detectamos precocemente a transmissão, quando notarmos o efeito da doença na ocupação de leitos hospitalares, já haverá um enorme número de pessoas infectadas”, explica a médica.
O governador Romeu Zema (Novo) admitiu recentemente à imprensa que a testagem em massa está descartada em Minas, alegando falta de recursos para financiar o método - posicionamento reiterado pelo Secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral em 29 de abril durante reaunião remota com deputados na Assembleia Legislativa. 
"A crise econômica é mundial, ela já está instalada, a gente sabe. Mas, infelizmente, eu acho muito difícil concordar com essa postura de que 'o estado está quebrado', não tem mais o que fazer, então vamos reabrir'. São vidas humanas', rebate Cristina Alvim".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

VOZES SILENCIADAS

Memórias Ancestrais & Urbanas

I FENASF - Festival Novos Autores Sul Fluminense